A imigração brasileira para o Paraguai começa de forma discreta, mas efetiva, nos anos 70, mesma época em que o fluxo para a Amazônica decresce. Este movimento é bem diferente daquele do final da década de 60, quando os primeiros colonos chegam ao país e encontram uma região de fronteira praticamente desocupada, com a população paraguaia concentrada na parte oriental. Dos últimos trinta anos para cá, a paisagem é totalmente diferente. A presença brasileira no Paraguai representa um fenômeno de consequências importantes para a dinâmica social e econômica do país.
O espaço que se nomeia "brasiguaio" é o resultado dos últimos trinta anos de colonização. O termo, que surgiu no final dos anos 80 para designar tipicamente os agricultores expulsos do Paraguai, pode ser usado também para referir-se genericamente a todos os imigrantes brasileiros naquela região. Em seu trabalho, Souchaud o emprega para explicar de que forma a "sociedade brasiguaia" se distingue da paraguaia; "se do fato de que representa uma reprodução quase intacta de um sistema sócio-espacial brasileiro no Paraguai, instalado sem consequências sensíveis para os hospedeiros, ou se ao contrário uns e outros agem e reagem de maneira determinante". A resposta, para o pesquisador, está claramente na segunda opção. De um lado a colonização brasileira favorece a integração econômica e política do Paraguai, mas ela também aprofunda sua dependência externa.
Percebe-se então que, num primeiro momento, os brasiguaios depararam-se com dificuldades decorrente da falta de infra-estrutura. Entretanto, este não foi o único problema. O documento Carta à População, divulgado na década de 1980, no Município de Mundo Novo (MS), tornou público as principais dificuldades enfrentadas pelos brasiguaios no país vizinho. A primeira denúncia está relacionada à dificuldade de aquisição dos documentos necessários para a regularização da condição de estrangeiro. Em segundo lugar, aos brasiguaios eram cobrados altos valores por esses registros e a falta destes gerava prisões e violência para com os inadimplentes por parte dos policiais e das autoridades locais.Em vista disso, cerca de 60% dos imigrantes brasileiros, de acordo com a Pastoral do Imigrante, se encontrava na clandestinidade. Alem disso, mesmo aqueles que adquiriam os documentos estavam sujeitos à sua validade temporária. As denúncias também relatam que os brasiguaios eram obrigados a comercializar com empresas cerealistas determinadas e estas pagavam preços ínfimos pelos seus produtos.
Ademais, muitos pequenos proprietários rurais por receberem títulos de validade questionável eram obrigados a pagar diversas vezes pelas mesmas terras. O último grande problema está ligado às pressões exercidas pelo campesinato paraguaio que, organizados em grupos, intimidam e invadem as propriedades rurais de brasileiros. De acordo com os campesinos paraguaios, o governo do general Alfredo Stroessner utilizou-se de mecanismos para apoderar-se de propriedades que lhes pertenciam e partilha-las entre setores do próprio governo, empresas estrangeiras e projetos agropecuários, incluindo aqui o assentamento de milhares de pequenos agricultores brasileiros. Desse modo, paraguaios sem terra reivindicam por uma reforma agrária nestas áreas. O conflito pelas terras entre estes setores agravou-se ainda mais com a construção da Hidroelétrica de Itaipú (1973-83) que desalojou diversos agricultores de ambos os países devido às inundações.
Trabalho de História, Alunas : Eduarda nº10, Érica Martins n°12, Jéssica Rodrigues nº 15, Lucimara Martins nº19, Maytê Rosale n°22 - 2EM,
O drama dos brasiguaios Brasileiros enfrentam a xenofobia dos paraguaios
Eles convivem com reações nacionalistas da fronteira
Atraídos pela promessa de terra e oportunidade, milhares de famílias brasileiras cruzaram a fronteira, nos últimos anos, para se estabelecer no Paraguai. A presença desses "brasiguaios", além de levar um surto de crescimento econômico à região, provocou um sentimento nacionalista e até xenófobo entre seus relutantes anfitriões.
A situação foi assunto de ampla reportagem no jornal americano The New York Times, cujo interesse pelo Mercosul cresceu após as pressões do governo Bush para antecipar a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).
Os paraguaios, segundo o jornal, reclamam que a identidade nacional nas províncias da fronteira está se diluindo por causa da predominância dos estrangeiros que falam sua própria língua, usam sua própria moeda, hasteam sua própria bandeira e são os donos das melhores terras. Outra queixa é que seus filhos crescem falando português como segunda língua, em vez do guarani. "Temos que proteger nossa identidade ou estaremos perdidos como nação nessa onda de globalização e Mercosul", diz Adilio Ramírez López, diretor de uma escola local.
Outra fonte de atrito é a questão racial, uma vez que a maioria dos brasiguaios têm olhos azuis e pele clara e os paraguaios são de origem indígena. Transmissões de rádio em guarani exortam os camponeses sem terra a atacarem os brasileiros, incendiando suas casas ou invadindo suas lojas, o que levou a imprensa brasileira a falar sobre limpeza étnica. As queixas dos brasiguaios são a discriminação contra seus filhos nas escolas locais e a intimidação das autoridades da imigração, já que grande parte deles nunca recebeu documentos de identidade paraguaios. Ao mesmo tempo, os brasiguaios nascidos no Paraguai não conseguem ter documentos brasileiros, o que impede algumas famílias cansadas da hostilidade de voltar ao Brasil.
Um censo da Igreja católica feito há quase 20 anos estimava que o número de brasiguaios era de 300 mil, cerca de 10% da população paraguaia na época. Hoje, podem chegar a 400 mil, mas esses dados são incompletos devido ao número de clandestinos. Em San Alberto de Mbaracayú, cerca de 80% dos 23 mil habitantes são descendentes de brasileiros e, votando em bloco, conseguiram eleger um dos seus, Romildo Maia de Souza, como prefeito. Maia diz que a solução para o problema virá à medida que as pessoas aprendam a conviver entre si. "Estamos começando a ver casamentos entre brasileiros e paraguaios; é assim que se forma uma nação", completa.
ALUNOS: Patrick, Mário, Lucas e Adson 2EM
Brasiguaios
São conhecidos como brasiguaios os brasileiros e seus descendentes que residem no Paraguai. Eles vivem próximos à fronteira brasileira e imigraram para lá no período da construção da Hidroelétrica de Itaipu.
Isso ocorreu porque esse projeto exigiu a desapropriação de grandes extensões de terra, o que resultou no desajolamento de muitos agricultores da região. As indenizações recebidas eram muito baixas, isso impossibilitava a compra de novas terras no Brasil e, pelas terras no Paraguai serem bem mais baratas, muitos desses colonos deslocaram-se para o país vizinho.
Esse processo, ocorrido na segunda metade do século XX, trouxe benefícios ao Paraguai, como o crescimento econômico para o país, principalmente na agricultura com o plantio de soja, tornando-o um dos maiores exportadores mundiais do produto.
Os brasiguaios, porém, vem enfrentando muitos problemas, como as invasões e ameaças de violência, descriminação sofrida por seus filhos nas escolas e dificuldade de conseguir documentos.
Um dos principais motivos da revolta paraguaia é o surto de crescimento econômico da região, o que fez com que despertassem sentimentos nacionalistas e xenofobia. Eles acusam os brasiguaios de terem ocupado suas terras ilegalmente e de segregarem-se, uma vez que falam sua própria língua, usam sua moeda própria, possuem as melhores faixas de terra da região e hasteiam a bandeira de outro país.
Os abusos ocorrem de ambos os lados, mas é preciso colocar ordem de forma justa, sem desrespeitar os paraguaios e nem os mais de 350 mil brasileiros que vivem no país, ensinando-os a conviver entre si e a respeitar os espaços e os direitos alheios.
Alunas: Beatriz F. Alves, Bianca Mangerona, Sarah F. Rosa